Circundantes
Sair da Caverna
Vivemos num tempo de crise, particularmente no mundo ocidental. Vivemos um tempo de mudança.
Por todo o lado se houve falar em desemprego e se augura um futuro negro para os jovens.
No
entanto, se recuarmos no tempo, se fizermos um passeio pela história,
veremos que em todas as épocas houve dificuldades, problemas e perigos,
de diferentes géneros, com os quais a humanidade, velhos, novos e
crianças, teve que se confrontar
Mas,
mesmo assim, nunca se viveu tão bem e com tanta qualidade de vida, como
se tem vivido no século XX e XXI, particularmente quando nos estamos a
referir ao "mundo ocidental", quer estejamos a falar de educação, saúde,
habitação, igualdade ou férias, hobbies e lazer.
Os
avanços da ciência, da tecnologia e mesmo da economia e política, dos
países, sofreram tal evolução que permitiram que " qualidade de vida" se
tornasse num novo paradigma da sociedade contemporânea.
Contudo, como não há bela sem senão, esses mesmos avanços têm o seu reverso.
A
era industrial, iniciada no Reino Unido, em meados do séc. XVIII, com a
denominada Revolução Industrial, produziu mudanças ímpares nas
sociedades, gerou grande desenvolvimento e riqueza e provocou a fuga
maciça das populações, do campo para as cidades, e a emergência de uma
nova classe social, a classe operária.
Esse
desenvolvimento foi imparável e em meados do séc. XIX entrou-se na
Segunda Revolução Industrial, ou a segunda fase de uma mesma Revolução, a
qual envolveu uma série de desenvolvimentos dentro da indústria
química,
elétrica, de petróleo e de aço, acompanhadas quer da crescente evolução
da ciência e da tecnologia, quer de um maior bem-estar e qualidade de
vida das populações, que, por outro lado, conduziu ao o nascimento do estado social.
Ainda
que a Revolução Industrial se tenha disseminado por todo o mundo
ocidental, e não só, os países não tiveram um desenvolvimento
tecnológico, científico, económico, social e cultural uniforme. Muitos
progrediram lentamente, atrasando-se na corrida do progresso. Atraso
esse do qual nunca conseguiram, verdadeiramente, recuperar, o que os
deixou vulneráveis às mãos dos mais poderosos.
Já
no século XX entrámos na era ou Sociedade Pós-Industrial, esta nova
sociedade, proveniente da evolução da tecnologia e da alteração do
paradigma da era industrial, se por um lado manifesta uma clara evolução
sociocultural e um contínuo crescimento na quantidade de pessoas com
qualificações de nível superior, ao ponto de deter habilitações académicas de nível superior se ter transformado numa coisa banal,
por outro, porque sustentada na utilização dos computadores, na quase
totalidade das ativdades, produziu uma redução drástica nas necessidades
de mão-de-obra não qualificada e mesmo de grande parte da qualificada.
II Guerra Mundial |
Nestes mais de 200 anos de história, nem tudo tem sido rosas, desde revoluções, mudanças drásticas de regimes políticos, múltiplas
guerras, duas das quais Guerras Mundiais, invasão e exploração dos
países dos continentes mais pobres e menos desenvolvidos, pelos ricos e
poderosos, ao nascimento dos grandes grupos económicos, anónimos e sem
rosto, que, visando o poderio económico como único e fundamental
objetivo, não olham a meios, consequências, perdas ou sofrimentos
alheios, denominando-os, impune e, quem sabe, ironicamente, de danos
colaterais, e que, cada vez mais, dominam e determinam o presente e
futuro das sociedades.
Mapa cor-de-rosa ("Divisão" da África subsariana) |
Chegámos, assim, ao tempo da Crise,
na era da Globalização, numa sociedade que se denomina, entre outras
coisas, de Sociedade do Conhecimento, Sociedade Educativa ou Sociedade
Reflexiva.
Chegámos, assim, à grande crise do capitalismo e, talvez, ao fim deste sistema económico e, também, político, tal como o conhecemos.
Chegámos, assim, ao tempo da mudança, da verdadeira Reflexão, da eficaz utilização do Conhecimento, do grande desafio que é compreender o que é Educação.
O
Estado Social deixou de ser sustentável. O desemprego transformou-se no
perigo mais temido. A terra grita cansada das atrocidades cometidas
contra a natureza. O capitalismo estrebucha, no mundo Ocidental. A
África subsariana estagna sob as mãos ambiciosas ou mesmo criminosas de
políticos corruptos e sem escrúpulos, para gáudio e enriquecimento dos
grupos económicos que os vampirizam. A América do Sul desgasta-se numa
luta, quase eterna, entre o crescimento, a justiça e a democracia e
outros interesses menos claros e de índole duvidosa. O Oriente floresce,
assente nos mais variados tipos desigualdades, desde as de género, às
económicas, no fundamentalismo religioso, na utilização, quantas vezes
desumana, da mão-de-obra barata, dos mais indefesos.
Mas,
é tempo de mudança. Nesta, tal como em todas as épocas e gerações,
existem perigos, injustiças, problemas e desafios. Nesta, tal como nas
outras, existe espiritualidade, generosidade, amizade, inteligência,
audácia e imaginação
Cabe
a todos nós e, acima de tudo, às gerações mais novas, à semelhança do
que fez o homem das cavernas, que inventou instrumentos para o ajudar
a aquecer, defender, caçar, pescar, alimentar, enfeitar, viajar..., que
aprendeu a domesticar animais, que inventou o fogo, aprendeu a
construir abrigos....e... Saiu da Caverna, também nós todos e,
especialmente, as novas gerações temos que inventar, imaginar, criar, desbravar caminhos, criar novos sistemas, inventar novas técnicas...Sair da Caverna.
Não há eras sem problemas, não há vidas sem riscos, não há desenvolvimento sem desafios, não há evolução sem coragem, inteligência, persistência, trabalho e imaginação.
Em
vez de lamentos, gritos, apelos à "guerra", em vez de "oráculos" da
desgraça, precisamos de engenho e arte. A necessidade faz o engenho, a
oportunidade, a ocasião...
Vivemos entre ciclos, vivemos entre batidas de coração, vivemos entre pensamentos e sentimentos.
Observarmos
o traçado de um eletrocardiograma ou eletrocefalograma é semelhante a
observarmos o traçado da evolução económica e talvez mesmo ao do pulsar
do universo.
Eletrocardiograma |
Eletrocefalograma |
Evolução económica |
Temos sempre um novo pico, uma nova batida, uma nova paragem, uma nova descida, uma nova subida.
No final, temos sempre que "engenhar" para SAIR da CAVERNA.
Só nos será possível enfrentar qualquer tipo de crise se entendermos aquilo que se passa no mundo à nossa volta. É fundamental que conheçamos a nossa história e as circunstâncias que nos trouxeram até aqui, para que possamos fazer uma análise objetiva e realista do momento que vivemos.
Este é um espaço de reflexão, debate e análise. Participe, exponha as suas opiniões, dê sugestões ou propostas de soluções, partilhe problemas,...., para que não sejamos meros espetadores, mas sim
membros ativos da sociedade em que vivemos.
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