INTELIGÊNCIA
Afinal, o que é a inteligência? Todos falamos dela, todos sabemos que existe, todos classificamos os outros e a nós próprios dentro de certos níveis de inteligência.
Mas, será que verdadeiramente a entendemos, sabemos defini-la e medi-la, ou, apenas, estamos presos a convenções, regras ou mitos, acerca dela, do seu objetivo e realizações.
"Conceituar a inteligência é uma tarefa peculiar porque a inteligência é a função psicológica responsável pela capacidade que temos de compreender o significado das coisas, de conceituar. No processo de conhecimento temos de um lado o objeto a ser conhecido, externo à inteligência, e do outro a inteligência, o instrumento mental que alcança o conceito desse mesmo objeto. Conceituar a inteligência é fazê-la objeto e instrumento simultaneamente, é ter consciência dos instrumento mental que nos permite conhecer o mundo e que está integrado à própria consciência." Dr. Rodrigo Marot - Médico Psiquiatra - in Psicosite
O que é ser
inteligente?
Isaac Asimov
"Quando
eu estava no exército, fiz um teste de aptidão, solicitado a todos os soldados,
e consegui 160 pontos. A média era 100. Ninguém na base tinha visto uma nota
daquelas e durante duas horas fui o assunto principal de conversa.
(No
entanto, isso não teve qualquer efeito prático – no dia seguinte eu continuava
soldado raso da KP – Kitchen Police)
Durante
toda minha vida consegui notas como aquela, o que sempre me deu uma ideia de
que eu era realmente muito inteligente. E imaginava que as outras pessoas
também achavam isso.
Porém, na
verdade, será que essas notas não significam apenas que sou muito bom para
responder a um tipo específico de perguntas académicas, consideradas
pertinentes pelas pessoas que formularam esses testes de inteligência e que,
provavelmente, têm uma habilidade intelectual parecida com a minha?
Por
exemplo, eu conhecia um mecânico que jamais conseguiria passar num teste destes.
Acho que não chegaria a fazer 80 pontos. Portanto, sempre me considerei muito
mais inteligente do que ele. Mas, quando acontecia alguma coisa no meu carro e
eu precisava de alguém para dar um jeito, era ele que eu procurava. Observava
como ele investigava a situação enquanto fazia comentários sábios e profundos,
como se fossem oráculos divinos. No fim, ele acabava sempre por consertar o meu
carro.
Então
imagine se esses testes de inteligência fossem preparados pelo meu mecânico. Ou
por um carpinteiro, ou um fazendeiro, ou qualquer outro que não fosse um
académico. Em qualquer desses testes eu comprovaria a minha total ignorância e
estupidez. E, logicamente,, seria considerado um ignorante, um estúpido.
Num
mundo onde eu não me pudesse valer do meu treino académico ou do meu talento
com as palavras e tivesse que fazer algum trabalho com as minhas mãos ou
desembaraçar alguma coisa complicada, eu dar-me-ia muito mal.
A
minha inteligência, portanto, não é algo absoluto mas sim algo imposto como
tal, por uma pequena parcela da sociedade em que vivo.
Vamos
considerar o meu mecânico, mais uma vez. Ele adorava contar piadas. Uma vez
levantou a cabeça por cima do capot do meu carro e perguntou-me:
“Doutor, um
surdo-mudo entrou numa loja de construção para comprar uns pregos. Pôs dois
dedos no balcão como se estivesse a segurar um prego invisível e com a outra
mão, imitou umas marteladas. O empregado trouxe-lhe um martelo. Ele abanou a
cabeça negativamente de um lado para o outro e apontou para os dedos no balcão.
Então, o empregado trouxe vários pregos, ele escolheu o tamanho que queria e
foi-se embora. O cliente seguinte era um cego. Queria comprar uma tesoura. Como
é que o senhor acha que ele fez ?”
Eu levantei
minha mão e “cortei o ar” com dois dedos, como se fosse uma tesoura.
“Mas o
senhor é mesmo muito burro ! Ele simplesmente abriu a boca e usou a voz para
pedir a tesoura, era cego mas não era mudo !”
Rindo às
gargalhadas, o meu mecânico disse: “Hoje, estou a fazer esta partida a todos os
clientes.” “E muitos caíram ?” perguntei esperançoso. “Alguns. Mas com o senhor
eu tinha a certeza absoluta que ia funcionar”. “Ah sim ? Por quê ?” “Como o
senhor Doutor tem muito estudo, eu sabia que não seria muito esperto” E algo
dentro de mim dizia que ele tinha alguma razão em tudo isto."
(tradução
livre do original “What is inteligence, anyway?”
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