In Vino Veritas

 
"In Vino Veritas - No vinho está a verdade, afirmavam os antigos romanos. Com isso eles queriam dizer que a embriaguez soltava a língua e fazia a verdade vir à tona(...) foram grandes produtores e apreciadores de vinho. Conheciam também a cerveja, o "vinho da cevada", a que chamavam cervecia, mas não a apreciavam muito. Em todo o mundo mediterrâneo, considerava-se o vinho e o azeite de oliva como o símbolo da civilização, ao passo que a cerveja e a gordura animal seriam o símbolo da barbárie."
                                                                                                             Pedro Mundim
 "Para SCHUCKIT MARC (1991) o álcool, a nicotina e a cafeína são as substâncias mais consumidas no ocidente, sendo o álcool a mais destrutiva.
O consumo de álcool constitui um grave problema de saúde pública, podendo interferir simultaneamente na vida pessoal, familiar, escolar, ocupacional e social do consumidor.
Segundo a DSM* IV (1995) o primeiro episódio de intoxicação alcoólica pode ocorrer na adolescência e os transtornos decorrentes surgirão próximo dos 40 anos.
 Para ALARCÃO (2003) Perdeu-se a aprendizagem que permite a interiorização de bons hábitos de consumo de álcool e que seria o projectar de futuros comportamentos de risco.
Que métodos pedagógicos utilizar para que esta aprendizagem se efectue, e que sejam mais eficazes que a televisão, revistas, cartazes que nos envolvem a ideia de que a bebida alcoólica traz prestígio, poder, sedução, afirmação pessoal, alegria, bem estar, sensações fortes.
Perante esta dualidade de mensagens contraditórias será mais fácil optar pela acção como forma de libertação de tensões podendo assim, acontecer a ingestão excessiva de álcool.
 A mais perigosa das drogas nacionais é, sem dúvida, o álcool etílico pois induz o vício. Aparentemente a nossa sociedade valoriza os aspectos benéficos do uso de bebidas alcoólicas mais do que teme as consequências maléficas pela facilidade de acesso de forma ilimitada (MICHEL, 2002)
 Apesar de o alcoolismo continuar a afectar, sobretudo, os homens com mais de 30 anos de idade, é cada vez maior o número de mulheres e jovens com problemas de dependência.
Alcoolismo é uma doença de carácter progressivo, incurável e quase sempre fatal. O alcoolismo agudo (embriaguez), é muitas vezes confundido com alcoolismo crónico.
 No primeiro caso, trata-se da ingestão única em grande quantidade de álcool, num dia ou num espaço curto de tempo, podendo ter como consequência o ir desde a uma leve tontura até ao coma alcoólico.
O alcoolismo crónico é quando ingerimos habitualmente bebidas alcoólicas, com frequência, repartidas ao longo do dia em várias doses, que vão mantendo uma alcoolização permanente do organismo, nunca saindo do efeito do álcool.
Para a OMS o alcoólico é um bebedor excessivo, cuja dependência em relação ao álcool, é acompanhado de perturbações mentais, da saúde física, da relação com os outros e do seu comportamento social e económico.
 MARTI (1996) afirma “A adolescência é o período em que as características do indivíduo favorecem em maior grau o início do consumo de drogas, e inclusive, a sua tendência para a dependência (...) o estímulo para beber cerveja pode partir do meio familiar (pais bebem regularmente) ou do social, em particular o grupo de amigos”.
Assim, será a transição da infância para a idade adulta, de um estado de dependência para um estado de maior autonomia. É mudança, crescimento, desafio e inquietação que culmina com a formação de valores e da identidade que caracteriza a vida adulta.
É a idade da alteração das relações que passa a ser mais acentuada com os colegas e cuja apresentação de um adolescente num grupo da mesma idade é vulgar e absolutamente necessário, respondendo às necessidades educativas e sociais, mas também a motivações intrapsíquicas pessoais.
 ANTUNES, citado no Projecto de Resolução nº 77/VIII (28 de Setembro 2000), refere-se aos efeitos nocivos do consumo de bebidas alcoólicas, alerta para a diminuição das “capacidades de aprendizagem, podendo mesmo haver perda das capacidades cognitivas” e “o alcoolismo está associado à maioria das causas de morte na adolescência os traumatismos, os suicídios e os homicídios são responsáveis por grande número de óbitos nos jovens e o álcool está quase sempre presente”.
Actualmente assiste-se a um aumento de adolescentes que bebem em excesso. Segundo o mesmo projecto “o aumento de consumo de álcool entre os adolescentes e jovens e o começo em idades cada vez mais jovens é igualmente alarmante”
 Estando o adolescente num processo de desenvolvimento bio-psico-social o consumo de álcool pode afectar profundamente o adolescente com repercussões para toda a vida.
O álcool é considerado uma droga do tipo depressora, pois diminui a actividade cerebral. Droga é qualquer substância que actua sobre o cérebro, alterando o psiquismo.
Entretanto o álcool é lícito e aceite socialmente. Isso quer dizer que pode ser comprado e consumido livremente. No Brasil, a bebida alcoólica é responsável por 90% dos internamentos em hospitais psiquiátricos.
Estudos não combinam com bebida. Um estudante que consome acha que no dia seguinte estará bem. Está enganado. O cérebro leva mais de uma semana para se recuperar do efeito do álcool. Isso quer dizer que nos dias seguintes a pessoa vai ter dificuldades me memorizar e compreender conceitos. O Estatuto da Criança e do Adolescente proíbe a venda de bebidas para menores de 18 anos, mas são poucos os bares que respeitam a lei. Assim, todos bebem sem culpa e sem medo, mas todo o cuidado é pouco quando se trata de bebida.
 Para TRINDADE e CORREIA (1999) a ingestão de álcool pode ter repercussões directas a curto, médio e longo prazo. As autoras consideram que os problemas que podem surgir a curto prazo são a diminuição do rendimento escolar, com os respectivos comportamentos de risco para a saúde, como por exemplo risco na condução de veículos motorizados. Continuando ainda na linha de pensamento das autoras supracitadas, estas referem que a personalidade também intervém para que haja um maior ou menor consumo de álcool.
Sendo assim, o uso desregrado desta droga está mais associada a indivíduos ansiosos, vulneráveis ao stress, com baixa auto-estima e fracas expectativas face ao álcool.
 A importância epidemiológica do álcool não acontece só porque é a droga mais consumida por adolescentes e jovens mas também pelo protagonismo que o seu consumo adquiriu nos tempos livres, como substância de referência nas relações sociais dos jovens.
 O consumo de álcool passou a ser uma componente essencial, articulador e dinamizador dos tempos livres de muitos jovens."
                            "Alcoolismo Juvenil", Lídea Rosário Cabral - Escola Superior de Enfermagem - Viseu

*DSM - Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders
  
Sou filha de um produtor de vinho, assim, desde cedo, me habituei a considerar o consumo de álcool como algo que fazia parte da dieta portuguesa. 
Sou apreciadora de um bom vinho, principalmente vinho tinto, e de cerveja. A bebida que escolhemos para acompanhar a refeição depende, muitas vezes, da ementa da mesma, pois se vinho tinto tem grande afinidade, por exemplo, com uma feijoada, a cerveja vai melhor com uma pizza ou marisco.
Contudo, apreciar, seja que tipo for de bebida alcoólica,  nada tem a ver com embebedar-se. Aliás, a partir de certa quantidade, de álcool ingerido, deixa de ter importância a sua qualidade ou género.
Esta pequena introdução serve apenas para afirmar que não tenho qualquer tipo de fundamentalismo relativamente ao consumo de álcool, mas, sim, ao seu consumo descontrolado e irresponsável.
Diariamente, relaciono-me com muitos jovens e dou-me conta da sua relação desviante com o álcool, particularmente no que se refere às "jolas" (cerveja) e, também, às drogas leves.
Sinto-me apreensiva quanto ao futuro de muitos deles, pois, infelizmente, os principais e mais graves malefícios do consumo excessivo de  álcool  ou drogas, não se manifestam a curto prazo, criando nestes jovens uma convicção de que não só podem controlar os seus efeitos e as subsequente ressacas, como de que não sofrerão qualquer tipo de  consequência a médio ou longo prazo.
Não raras vezes, muitos destes jovens ficam completamente  inconscientes e entram em coma alcoólico. Mais tarde, falam do assunto como se tivessem realizado um grande feito e como se fosse perfeitamente natural beber até ficar inconsciente ou vomitar durante uma noite inteira. 
Muitos acabam por adormecer, num sítio qualquer, e apenas regressam a casa, nesse dia ou manhã, se alguns dos amigos, mais resistentes ao álcool ou menos adeptos de ficarem toldados, os forem lá levar.
Quando bebem estes jovens? Bebem quando vão a uma festa, ao fim-de-semana, quando acabam os exames, na semana académica, nas praxes ou, muito simplesmente, sempre que estão com os amigos.
Não beber, não se embriagar, é algo que não é "cool", não dá statos. Quem não bebe é um "nerd".
Estranhamente, parece haver um grande silêncio acerca destes comportamentos e os próprios pais parecem não ter consciência da real gravidade do problema.
Paralelamente à, cada vez mais, tardia abertura das discotecas, cada nova geração começa a beber mais cedo.
Que consequências físicas, psíquicas e intelectuais terão estes excessos, no futuro destes jovens?
Que mentalidade é esta em que, quando se pensa em sair, o  objetivo não é divertir-se, mas, sim, embebedar-se? 
Muitos estudantes universitários encontram-se longe da família, portanto, estas, não têm a noção nem do número de vezes, nem do grau de alcoolemia atingida pelos seus filhos.  Mas, o que pensam ou de que se apercebem os pais que estão perto dos filhos?
A maioria destes jovens é bem educada, inteligente e bem formada. Alguns, logo que terminam os cursos e arranjam trabalho, passam a beber moderadamente, construindo vidas equilibradas. Mas, muitos outros, por diversos factores, poderão perder-se pelo caminho.
Supostamente, noventa por cento dos jovens, que ingressam na faculdade, já são legalmente adultos. O tempo de serem "educados" já passou. Não é papel das faculdades controlar o que bebem, quanto bebem ou quando bebem os seus alunos.
No entanto, as consequências, num futuro próximo, destes consumos excessivos de  álcool, são preocupantes e imprevisíveis.
Enquanto pais, professores ou membros da sociedade devemos ter uma palavra a dizer?
Ou, este é apenas um comportamento normal nos jovens e não temos que nos preocupar? 
Desde os primórdios dos tempos, as novas gerações entraram em confronto e tentaram afirmar-se perante os mais velhos. 
Nesse caso, o excessivo consumo de álcool é apenas uma "coisa" de jovens  e uma forma de afirmação?   

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