EURO OU ESCUDO?

"Como vêem a possibilidade de Portugal sair da zona-euro e voltar para o escudo?"

Esta  questão foi colocada num grupo da net, do qual faço parte. O debate que a seguir se estabeleceu foi interessante. Uns apresentaram razões a favor da saída do euro, outros contra...
Não sendo  a economia uma das áreas em que me movimento melhor, penso, contudo, que a saída do euro levanta questões complicadas. Entre outras coisas, porque obrigaria à emissão de uma enorme quantidade de notas e moedas, o que, em termos de custos, em nada ajudaria a já grave crise em que nos encontramos e se, por um lado, tendo uma moeda nossa, é possível baixar o seu valor, com o objetivo de aumentar as exportações, ou tornar o valor da mão-de-obra atrativo para os investidores, por outro, perde-se capacidade de importação, ou de intervenção nos mercados.

Alguém argumentou a favor do regresso ao escudo, da seguinte forma "...em vez de importar, recomeçar a produzir internamente, e inicialmente com apoio do estado, nem que fosse na simplificação administrativa. Afinal, não teria sentido não ter independência e auto-sustentabilidade depois de recuperarmos a soberania monetária. Além de que seria fundamental para a recuperação de empregos. Por todos os motivos que aponta e mais alguns, só vejo como fundamental o regresso de Portugal ao escudo!"
E, eu questiono,  como é possível sermos completamente auto-sustentáveis, sem perdermos muita da nossa atual qualidade de vida, acima de tudo porque temos uma indústria incipiente e frágil, uma economia próxima da bancarrota, níveis de educação abaixo da média europeia, uma dimensão geográfica reduzida, etc? 
Para além de que, vivendo nós na era da globalização, toda e qualquer alteração, política, social  e/ou financeira, sofrida por um país, reflete-se, forçosamente, em todos os outros.
Não penso que seja possível, na conjuntura mundial atual, vivermos "orgulhosamente sós".

Seguidamente transcrevo dois  comentários, os quais foram a minha contribuição para o referido debate,    

"Portugal é um dos países pobres da Europa, sempre o foi, mesmo quando não o era.
Sair do euro não me parece a solução. Aliás, duvido que alguém conheça a solução.
O atraso de Portugal, em relação aos outros países da Europa, é como uma doença crónica, tem a ver com má gestão, falta de patriotismo, ganância, vaidade e com a nossa dimensão e outras características específicas do país.
Chegámos tarde à Revolução Industrial, atrasados à Educação, e tivemos que sujeitar-nos aos grandes, quando finalmente entrámos na Europa. 


Quando aderimos ao euro, este veio, mais uma vez, servir para que os "espertos" se aproveitassem da "coisa", tendo, entre outras coisas, muitos dos bens e alguns serviços passado para o dobro dos valores que tinham anteriormente.
Quando a crise se abateu sobre o mundo ocidental, logicamente, fez-se sentir com maior violência nos países menos desenvolvidos e de economia mais frágil. 


Mas, a crise do capitalismo é irreversível. Estamos numa fase de transição, passámos da era industrial, para a era pós-industrial. Todo o sistema económico capitalista está alterado e se irá transformar num novo sistema, de que ainda não conseguimos ver bem os contornos.


Naturalmente, se Portugal chegou atrasado à Revolução Industrial, não chegou a crescer e desenvolver-se completamente, entrando na era pós-industrial, novamente, atrasado. 


Com escudo, ou com euro, não sei se isso fará alguma diferença. Necessitamos, sim, é de encontrar alternativas, imaginar novos sistemas económicos, sociais, educativos. 


Contudo, neste momento, não são os governos e os políticos que decidem, ou dominam, os destinos dos povos, mas, sim, os grandes grupos económicos. Mas, mesmo esses, têm, de certa forma, os dias contados. Quando os países, e as pessoas, deixarem de ter dinheiro para comprar, seja lá o que for, esses grandes grupos deixarão de ter forma de controlar a humanidade, porque já não têm a quem vender. 


Daí a importância de encontrarmos alternativas e novas formas de olhar o mundo, em todas as suas perspetivas, economia, ambiente, educação, valores morais, etc. 


A esse propósito, deixo-vos um link para uma publicação que me parece encontrar-se no âmbito deste debate, a qual contém links, para duas outras, as quais poderão, de alguma forma, enriquecer este tema
http://projecoesdeumperfilfugidio.blogspot.pt/2013/05/educacao-e-trabalho.html"

"Ainda na continuidade do meu anterior comentário, deixo-vos mais um link para uma interessante entrevista, realizada pelo Público, ao filósofo Anselm Jappe, http://www.publico.pt/destaque/jornal/o-que-faremos-se-o-sistema-ja-nao-conseguir-criar-trabalho-26412168 . A qual me parece conter excelente material para reflexão e que, na minha perspetiva, reduz a questão do escudo vs euro, a um problema de somenos importância, uma vez que as causas da crise atual, ainda que se devam, também, a má gestão, corrupção, ganância, opções erradas, etc., têm como principal origem as transformações inerentes e intrínsecas à evolução e desenvolvimento de qualquer sistema económico-político-social, especialmente quando este se encontra associado a um extraordinário desenvolvimento científico e tecnológico, como foi o dos últimos cento e tal anos.

O Capitalismo está moribundo. A classe operária é hoje apenas uma pequena amostra (em números reais) do que foi há 50 ou 100 anos atrás. 


O estado social apoia-se, agora, em “pernas” trémulas e debilitadas, pois que, no mundo ocidental, o número de idosos, não ativos e portanto dependentes do estado, continua a crescer, o número de nascimentos continua a decrescer, o número de ativos reduz-se a cada passo. 


Acresce, ainda, que, em países como Portugal, a fraca industrialização, os níveis, ainda baixos na Educação, se comparados com a média Europeia, as economias deficitárias, os produtos finais caros, quer pelo valor da mão-de-obra, quer pela fraca dimensão das industrias, lhes reduz a capacidade competitiva, quer com os países em ascensão, como a China, quer com os gigantes da Europa, Alemanha ou Grã-Bretanha, quer com um colosso como os EUA. 


Assim, escudo, ou euro, é apenas “apelido” do problema real, pois, mesmo os gigantes e os colossos, se encontram a braços com a mesma crise, obviamente, atingindo-os numa outra dimensão. 


Evidentemente, se estivermos a falar dos países da África subsariana, ou da maioria dos países da América Latina e, diferentemente, dos países Asiáticos, particularmente os países islâmicos, outras e diferentes questões se colocam. 


Contudo, esta mesma crise de que falamos, também neles se irá refletir, de diferentes maneiras, em função do seu desenvolvimento socioeconómico e das suas características específicas"
 
Porque considero que a crise económica e financeira atual, ou crise do capitalismo,  é grave e afeta, não um país, ou países, em particular, mas o mundo inteiro, condicionando e comprometendo o nosso futuro e dos nossos descendentes, desafio-os a refletirem e comentarem este tema.

Depois de muito refletir sobre este assunto, subitamente,  surgiu-me uma ideia. Ideia esta que só teria viabilidade se os governastes e os cidadãos dos diferentes países conseguissem chegar a um consenso.  
Deixo-vos com essa ideia que é, de certa forma, uma "provocação": 
 
A evolução, científica, tecnológica, educacional, económica e financeira, conduziu-nos a uma espécie de abismo. 
Se, por um lado, nunca a humanidade teve um tão elevado grau de qualidade de vida, como tem atualmente, por outro, o desemprego nunca tinha atingido tão graves  dimensões, nem nunca o futuro se tinha apresentado tão imprevisível e insustentável, a diversos níveis, quer nos estejamos a referir ao ambiente, ou  à sobrevivência das famílias.
Se vivemos, agora, na Aldeia Global, e essa aldeia não se mostra eficiente e eficaz, a diferentes níveis, porque não manter apenas o que é eficaz desta Aldeia, ou seja, as comunicações, acesso ao conhecimento, à informação, aos contactos imediatos e a longa distancia, as deslocações rápidas e a mobilidade, a evolução do conhecimento relativamente à saúde ou à utilização da tecnologia, a qual facilita e agiliza a produção e troca de bens e serviços, etc., e alterar o que não funciona?
E, o que é que não funciona? O que não funciona é a Aldeia, porque a Aldeia é artificial. 
Vivemos num mundo repleto de diversidade, a todos os níveis, e tentámos, artificialmente, uniformizá-lo, como se nós próprios e a natureza, da qual fazemos parte e dependemos, fossemos máquinas, sem atendermos a características específicas, a imponderáveis, a circunstâncias locais, a idiossincrasias pessoais e regionais.
Então, talvez devêssemos desmantelar e retirar o poder à Aldeia, criando muitas pequenas Aldeias, tão auto-suficientes quanto possível, vendendo cada uma delas, às outras, os bens ou serviços que fossem mais adequados às suas características intrínsecas e específicas.
E, o que aconteceria à Aldeia? Esta funcionaria como uma espécie de Mega Server Central,  em permanente contacto e interação com todas as Aldeias, funcionaria como um mercado abastecedor, como um centro de logística, como um mercado de trocas, sem poder real, pois cada representante das pequenas Aldeias teria igual poder de decisão e gestão,  sendo os bens ou serviços, transacionados,  valorizados, não em função da sua raridade, luxo, ou extravagancia, mas sim em função das necessidades primárias e básicas que satisfizessem e da sua contribuição para a melhor qualidade de vida e bem-estar de todos.
Que lhes parece como utopia? Talvez seja utópico.... Talvez seja apenas uma ideia... Talvez os Senhores do Dinheiro não apreciem o conceito, porque lhes retiraria o poder e a supremacia, mas penso que seria uma boa forma de criarmos um mundo melhor. 
Afinal, o que é que cada um de nós mais valoriza? O que é de facto importante na nossa vida? O que nos faz, de facto, mais felizes?
Por si só, as "coisas" não têm, nem deixam de ter, valor, esse valor é-lhes atribuído por nós.  Talvez esteja na altura de decidirmos, então, alterar o "valor" de muita coisa.

Comentários

  1. Teresa, eu participei do debate, mas considero a ideia do desmantelamento da "Aldeia" e da criação de várias, talvez inumeráveis "Aldeias", como utópica demais. A sociedade contemporânea é muito complexa e interdependente. Não podemos mais voltar para as "Aldeias". Seria uma medievalização. O avanço da sociedade pós-industrial é inexorável.

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  2. Estou vendo a crise de Portugal do lado de cá do Atlântico, do Brasil, onde vivemos uma crise ainda maior que é a falência moral e o alastramento da criminalidade impune. Minha visão portanto é a de um Portugal angustiado porém ainda ancorado em seus valores e princípios morais. Talvez aí não se incluam ospolíticos, mas estes, em qualquer lugar do mundo guiam-se pelo mesmo princípio individual do enriquecimento. Assim entendo que trocar euro por escudo é como se diz no Brasil, trocar seis por meia dúzia. Há que se resolver a questão economica através do crescimento e não da austeridade. Minha avó já dizia que ficsa rico quem ganha mais e não quem gasta pouco. Mesmo estando longe, descortino um forte "produto" português que a meu ver não é o suficientemente explorado: o turismo. Assim como diversos países do mundo possuem sua maior receita no turismo, acho que Portugal poderia investir mais no fortalecimento deste setor. A industrialização é um processo de longo prazo, a agricultura um setor saturado enquanto o turismo cresce a cada dia, alimentado por um número de pessoas cada vez maior que cansaram das suas "aldeias", da vida padronizada e que buscam a aventura como uma recompensa própria. Mesmo que a industria do turismo não resolva de imediato todos os problemas de Portugal , certamente ajudará bastante e rapidamente pois os produtos turisticos existentes já estão prontos bastando apenas divulga-los junto aos grandes países emissores de turistas. Espero ter ajudado na debate de alguma forma.

    Marco Gavazza, da Salvador, na Bahia, Brasil.

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